domingo, junho 25, 2006

A Alexandrina fala ainda

Um dos aspectos que mais impressionava quem se abeirasse da Alexandrina nos últimos tempos de sua vida terrena, era a incansável preocupação de a todos dirigir um convite à conversão, ao amor de Deus, a uma autêntica vida cristã. As palavras saíam-lhe espontâneas do coração com uma fluência e força de convicção admiráveis, levando as consciências ao arrependimento e à mudança de vida.
Com a sua morte, em 13 de Outubro de 1955, aquela voz não tornou a fazer-se ouvir como fizera até ao último alento de vida. Mas nem por isso deixou a Alexandrina de continuar a constituir um eloquente pregão, quer com o testemunho da sua vida, quer através dos escritos, que nos transmitem - com inalterável frescura e actualidade - a sua mensagem de amor, de reparação, de zelo pela conversão de quantos andam esquecidos de Deus.
O estudo rigoroso das suas virtudes, feito primeiro em Braga, no processo informativo e na base das testemunhas para o efeito convocadas, e agora em Roma, tem precisamente em vista colocar a Alexandrina num glorioso pedestal e apontá-la como modelo.
A circunstância ... oferece-nos uma óptima ocasião para reflectirmos sobre a sua espiritualidade e captarmos os espectos mais significativos dela, assim como os ensinamentos de maior actualidade.
Parece-me que o apelo mais premente da Alexandrina a este mundo, que vai perdendo cada vez mais a noção de pecado, é este: "vivermos na graça de Deus".
A verdadeira e mais alta dignidade do homem é a que S. Paolo apresenta: "somos templos de Deus". (II Cor. 6,16).
Também S. Pedro recomenda aos fiéis não só que conservem, mas que cresçam "na graça e no conhecimento de Nosso Senhor Jesus Cristo" (II Pedro, 3, 18).
A Alexandrina pòde escrever: "Tive um bom Mestre. Foste Tu, é meu Jesus, a ensinar-me desde criança" (4-10-1938).
E foi Jesus que nos introduziu também a nós no mistério da vida da graça, a qual consiste na presença habitual da SS. Trindade nas almas e na participação destas na vida divina. No Evangelho diz-nos Jesus: "Se alguém Me tiver amor... também meu Pai o amará e Nós viremos a ele fazer a nossa morada... e o meu Pai vos há-de enviar, sob a bênção do meu Nome, o Consolador, que é o próprio Espírito Santo" (Jo. 14, 23, seg.)
Desde pequenina, como acenei, a Alexandrina foi instruída sobre esta verdade básica da vida cristã. Com efeito, pelos 14 anos, para conservar a vida da graça, salvando a sua pureza, atirou-se de uma janela abaixo, com um salto de quase quatro metros.
Mais adiante, amadurecida já nos anos e na virtude, e também já experimentada nos caminhos da mística, teve de atravessar um período de indizível sofrimento. Pivaram-na do seu primeiro director espiritual, o Padre Mariano Pinho, S.J., tendo ao mesmo tempo corrido a voz de que a privariam também da Comunhão.
A sua reacção a tais acabrunhadoras notícias reflecte-se significativamente no seu Diário: "... Mas arrancar-me do coração o tesouro riquísssimo que eu adoro, que eu amo acima de todas as coisas, o Pai, o Filho, o Espírito Santo, nunca, nunca, os homens o censeguirão. Teriam, para isso, que fazer-me viver sem coração e sem alma. Impossível! Venha a força do mundo inteiro, seja ele todo contra mim a separar-me desta grandeza infinita, deste Amor infinito! Nunca! Só o pecado, só esse me pode separar" (19-2-1942).
No verso de um santinho escreveu pelo própio punho: "Não sei o que sinto. Não sei que força irresistível me convida a viver no meu íntimo em união com a Trindade divina. Como me sinto feliz nesta vida de intimidade com Deus".
Ao seu segundo director espiritual confidenciava: "Sinto-me plenamente satisfeita com a oração Glória ao Pai, ao Filho, ao Espírito Santo".
O epitáfio que ela própria escreveu, para ser colocado sobre a sua campa, continua a proclamar a necessidade da conversão e do amor a Jesus aos milhares de peregrinos que aí acorrem: "Pecadores, convertei-vos! Não ofendais Jesus! Não queirais perdê-Lo eternamento! Basta de pecar! Jesus é tão bom! Amai-O! Amai-O!".
Estas palavras reflectem com toda s singeleza os sentimentos que nortearam a Alexandrina ao longo de toda a sua vida. No seu Diário deixou escrito: "Preferiria morrer e passar a eternidade a sofrer, antes que ousar ofender o meu Jesus com a mais pequenina falta" (14-5-1948).
Chegou a afirmar, sob a forma de oração: "Se para não Te ofender, tivesse de renunciar ao Céu, renuncio de boamente" (9-10-1944).
Altíssima expressão de um amor puro, sumo, desinteressado!
Chegou a atingir tão alto vértice do ideal cristão, pedindo diariamente ao seu Jesus: "Eu quero ser santa! Abençoai a tua filha que quer ser santa!" (Autobiografia).
P. Humberto M. Pasquale, SDB

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